quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Sina

Acordo exasperado sob o furor do teu olhar, claro, límpido e infinito.
Não que precisasse.
Os travesseiros têm teu cheiro.
E o quarto, em tua ausência, encontra-se diminuído.
Ora, cada quadro perde um pouco do brilho depois que passas.
Vê: é tua sina, não podes estar em todos os lugares, tens que iluminar um canto por vez.

Um.
Canto.
Por.
Vez.

Maldição pra ti ou para todos os outros que gozaram de tua presença?
Não sei.
Mas gosto de lembrar enquanto você, me decifrando, alisava os cabelos.
Fácil.
Como num conto infantil.
Óbvio demais.
Uma planta carnívora que calmamente escuta o discorrer de sua próxima refeição.

Refeição?

Não consegues.
Há substância na matéria que tentaste engolir.
Mal sabias, mas as palavras te nutriram a alma.
Estás cheia, o físico já não importa.
Queres a saciedade das frases, do encanto, da leveza e da divagação.

E agora, somos, eu e tu, condenados a suportar a ausência um do outro.


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