Era apenas mais uma noite insólita em que sentia suas entranhas revirarem. O frio brincava como moleque travesso entre sua espinha e seu estômago, aumentando ainda mais o desconforto de existir.
Estava alheio a si mesmo, um espectador de uma vida qualquer, exceto que esta era sua. Sabia que deveria fazer alguma coisa, tomar as rédeas da sua vontade, mas seria trabalhoso demais. Os dias se arrastavam e ele os olhava enquanto morriam, percebeu que o vermelho do crepúsculo era nada mais que o jorro de sangue de uma estrela cuja morte e renascimento eram acontecimentos rotineiros.
"Como podem todos dormir sob uma estrela que morre, não se desesperam por estarem, a estrela e eles mesmos, fadados a um só caminho?" Pensava.
Não havia novidade, o mundo em toda sua diversidade não lhe oferecia prazer algum. Sabia que no grande esquema das coisas era descartável, que todos eram.
Então ela apareceu...
Mostrou-lhe tudo que lhe era familiar, deixou ser ensinada, torceu o nariz, mesmo sabendo que o desconforto seria o próximo passo, chorou e sorriu ao seu lado, bem como revelou-lhe coisas que sabia que ele não imaginaria ouvir.
Riram, trocaram afagos e tragédias, eram curiosos em suas formas embora fossem perfeitamente simétricos. Ele não entendia bem o que acontecia, como e por que motivo ela estava ao seu lado, a dor da existência diminuía conforme os seus problemas iam se dissolvendo, percebeu, então, o grande esquema das coisas: Ocupação.
O sol, em sua infinita bondade, existia para aquecer até o dia em que morresse, bem como a lua acalenta aqueles que já se aqueceram demais.
Tomou um gole de água, sentou em sua escrivaninha e com a maestria de um artista as linhas se desnudaram sobre o papel, suas vísceras expressavam exatamente o que sentia: Ela, ele, seus versos, tudo era a sua razão para existir.
Não fosse a insensatez em que vivia, sabia, não duraria um segundo a mais. Parou, pensou na expressividade de sua descoberta, no teor destruidor do que tinha acabado de realizar.
Não fosse a insensatez em que vivia, sabia, não duraria um segundo a mais. Parou, pensou na expressividade de sua descoberta, no teor destruidor do que tinha acabado de realizar.
Deitou-se e, para sua surpresa, rapidamente dormiu e sonhou...
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