sábado, 18 de outubro de 2014

Duas

Duas da manhã.
Mais uma vez.
Duas da manhã.

Ela chegara e se juntara a mim. Novamente eu dividiria a minha cama.
Como não notá-la quando suas mãos cerravam-se sobre meu pescoço?
Abri os olhos para encará-la, nunca fugi realmente do seu olhar, e no profundo abismo de suas expressões encontrei o amor.
Com a força que me restava indaguei: ''O que acontece se acaricio as mãos que me roubam a vida?''
Não havia resposta. Nunca há resposta para o desarmar do amar, é sabido.
E ela sabia.

Duas da manhã.
Deus, quantas duas devo suportar?
Não existem mãos que me roubem a vida hoje, mas ela está comigo.
Deita-se e, como de costume, não pede permissão. Sua recorrência me é completamente misteriosa, e, de novo, cá está.

Com certeza a amo. Sua precisa visita faz perceber o motivo pelo qual tanto fugi: Não tenho como olvidar alguém por quem nutri carinho tão devoto.


Seus dedos tamborilam pela minha pele mais uma vez, a maciez dos seus movimentos não negam, sei para onde se encaminham.
Como não notá-la? Como fugir dos laços em que suas mãos precisas e suaves tornavam a fazer abaixo do meu rosto?
A resposta já me é antiga companheira.
Ela não me sufoca enquanto dou-lhe as mãos.