sexta-feira, 15 de março de 2013

Penumbra

  Abriu os olhos, imóvel na escuridão em que se encontrava. Tentava ser um só com o silêncio, buscava conforto na ausência de tudo e todos. Gostava mais dos que já se foram, das coisas que não teve, dos que não gostava das mesmas coisas que ele.

  Em meio a escuridão percebeu que um vulto agora o encarava. Viu a edificação dos seus erros se erguer e o confrontar. Tudo em que falhara era o que realmente o havia moldado. Não se sentia fraco, sentia-se grato. Seus defeitos formaram sua personalidade, que não era a melhor ou pior, mas única. Abraçou os seus fracassos e momentos depois notou que eles passaram a se esvair. Acenou com o pesar de despedir-se de um grande companheiro e concluiu que dera um passo rumo ao lugar onde deveria chegar.

 Avistou um pequeno semblante encolhido, parecia soluçar e estremecer. Ao confrontá-lo descobriu seu nome: Vitória. Era uma criatura engraçada e de feições muito orgulhosas embora fosse  bastante pequena. Perguntou-lhe por que parecia triste e sentiu seu corpo estremecer com a resposta:

"Onde quer que eu exista sou procurada;
 De uns escapo, de outros sou tomada
 Eventualmente me alcançam e tão tenro é o momento
 Onde juntos cantamos e nos jogamos ao vento
 Risos e abraços proclamam em meu nome até que percebem...
 Que existem outras de mim e que rapidamente me sucedem,

 Que não sou única e suficiente
 Para segurar as ambições de tanta, tanta gente."

  Decidiu que a levaria sobre seus ombros, suportaria o peso e as consequências dela e de quantas do seu tipo encontrasse. Reparou que agora possuía os dois pés voltados para a mesma direção, seja lá o que lhe esperasse, era para lá que iria.